quinta-feira, 24 de junho de 2010

Música num burgo medieval




O verão chegou por aqui e com ele muitos, muitos festivais. Ando meio maluca com tantas opções. Quero aproveitar tudo, mas tenho de estudar, trabalhar e cuidar da pequena Sofi. Vida dura aqui na Zoropa. Bom, mas consegui um tempinho livre no sabadão e fui para a região de Castelli Romani, mais precisamente Lanuvio, onde acontece o Festival della Musica. Belíssimo!!! São dois de festival, um pouco como a Virada Cultural em São Paulo, mas bem menor e, claro, por ser menor, muito melhor organizado. Lanuvio é um burgo medieval, cheio de vielas, vicolos, no alto, de onde se pode ver uma parte de Roma. Para chegar, passamos por Albano Laziale e Arricia, que tem uma ponte famosa e muitos, muitos restaurantes que servem a tradicional 'porcheta' = pão com carne de porco crocante, com a pele. Uma delícia. Bom, mas de volta ao festival, a cidade toda se mobiliza para o festival, pequenos palcos são montados em meio às vielas. Do nada, os visitantes são supreendidos com um concerto de rock, ali, perdido no meio de um burgo medieval. Eram mais ou menos 20 grupos todos do local, jovens que amam a música e criaram um modo para se expressar, já que não tinham espaço no 'mundo do espetáculo'italiano. Em geral, quase ninguém vive da música, são todos amadores, tocam por paixão e mantém outros trabalhos para, inclusive, sustentar as guitarras, baixos e baterias. O festival tem quinze anos, é sempre cheio e a cidade vive os dois dias como uma grande oportunidade para por o pé no resto dos festivais que acontecerão aqui na Itália até o próximo mês de agosto.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Cinema sem intervalo

Outra coisa divertida aqui na Itália é que o filme (ou film em italiano) para no meio. Sim, quase sempre numa parte boa. A pausa dura mais ou menos quinze minutos, as pessoas saem, compram mais um balde de pipoca e tornam aos seus lugares (numerados, é bom dizer, e isso é uma grande vantagem, pois evita a fila insana) para a segunda parte do filme. Pois bem, na primeira vez que isso aconteceu, achei que fosse algum problema técnico, mas logo descobri que não, que era apenas mais um item para a lista das nossas diferença. E ontem fui assistir um filme com Sofia, o filme corria, nós esperávamos o intervalo e nada. Surpresa, era um cinema da rede Warner, sem intervalo...

O caminho de Long Beach... e a chegada


domingo, 13 de junho de 2010

Long Beach romana

Ontem fomos à praia de Ostia. O calor continua terrível e decidimos pegar uma praia. Bom, conheci a Praia Grande italiana. A diferença é que se chega com um trem, que parte de Roma e te deixa quase de frente para o mar. Fantástico! No trem, o que nós chamamos de farofa está por todos os lados. Adolescentes, mães com filhos, casais, todos com sacolas, bolsas, cerveja quente (como podem beber cerveja quente?), toalha, canga e tudo o mais que se tem direito. Um cheiro de tramezzino com panino tremendo. E um falatório sem tamanho. Eis que chegamos. Estranhíssimo, a praia é fechada, assim como quase toda a orla, dividida em pedaços administrados por grandes chalés, com restaurantes, piscinas, quiosques que comercializam brinquedos, jornais, sorvetes. Se paga 3 euros para entrar na 'estrutura' e ter direito a usar o banheiro, fazer uma ducha fria (a quente custa mais 1 euro). Para o guarda-sol, 9 euros, para as cadeiras, 6 e 7 euros (a que se pode deitar). E tinha fila. Pagamos a entrada, o guarda-sol e duas cadeiras. Com uma precisão, o funcionário do lugar, veio correndo, com um sorriso (coisa rara por aqui), ajeitou as cadeiras, o guarda-sol e pronto. Ao lado, vejo as pessoas que só pagaram 3 euros se espalhando pela areia escura com suas toalhas e cangas, ao som do apito do empregado, 'sugerindo' para eles irem um 'pouco mais pra lá'. Quem caminha pela praia, também não pode parar ali. E não adianta bancar o espertinho, entrando por outro lado, os funcionários são bem atentos, logo mandam as pessoas se retirarem. É estranho, afinal a praia é pública. Saudade do Brasil. Por outro lado, todo mundo deixa a bolsa, os brinquedos das crianças e sai para passear. Quando retorna, sabe que vai encontrar tudo no lugar _ pelo menos eu acho, mas enfim: a praia é pública, ok para se pagar pelo uso dos serviços, isso temos também nas praias brasileiras, mas ali as areias são livres para as caminhadas, para parar onde quiser e olhar o mar com calma, sem o apito do 'chega mais para lá'. E também, claro, senti falta da caipirinha, da batidinha e das ondas...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Salve as Havaianas, as legítimas

Eu não sei quantos graus está fazendo aqui, trinta ou mais de trinta, com certeza. E eu circulo feliz da vida de havaianas. No Brasil, em São Paulo, quase nunca, só em casa ou na praia (num sei pq) mas aqui, em Roma, me sinto bem confortável em meter as minhas legítimas no pé e sair por aí. Acho que é aquela estranha liberdade do turista, que está num lugar em que ninguém te conhece direito, vai te olhar de cima em baixo mesmo, quando te ver de havaianas, então, perfeito. É colocar as havaians e pronto. Ontem, até jantei num restaurante de Trastevere de havaianas e bermuda. Concorro com os alemães e suas papetes, com as russas, mas a minha bermuda não é tão curta. Roma no verão é uma delícia.

Samantha falando italiano

Fui ver Sex and City essa semana. Sim, eu gosto de Sex and City, adorei a série, quanto aos filmes, tenho várias ressalvas, mas ok. No primeiro, um grande viva para o vizinho da Samantha e para a assistente da Carry, a Louise. Pois bem, no segundo, tenho muitas outras ressalvas, mas, novamente, o romance da Samantha em Abu Dhabi salva o filme, com uma ajudinha da sexy babá da Charlotte, que não gosta de sutiã. Mas, o mais divertido foi ver o filme todo em italiano. Sim, os italianos tem uma mania maluca de traduzir todos os filmes para o idioma deles, e não estou falando de legendas, são dublados. Para assistir o filme no idioma original é uma luta, são raras as salas que passam e, como tudo aqui na Itália, tem um dia certo da semana. Não preciso dizer que nunca acerto o tal dia. Quando conto que no Brasil não é assim, só filme para criança é dublado, as pessoas fazem cara de susto e dizem:'mas como é possível ver o filme e ler a legenda?'. Esses italianos... Estão tão mal acostumados, mas, me parece que não é só essa questão, a indústria da dublagem é bastante vigorosa por aqui, emprega muita gente, então, em tempos de crise, é muito bem vinda. E nós nos abituamos a ouvir Samantha e Cia. falando como Claudia Cardinale.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Sono stata mollata

Cena divertida hoje no curso (é, aos 33 anos, voltei para escola, e vou de mochila e tudo). É um máster de Curadoria de Museus, no IED Roma, é muito bacana, eu recomendo. Pois bem, os meus colegas de classe, 16 (14 mulheres e dois homens), são todos, com exceto Domenico, mais jovens do que eu. E acontecem coisas engraçadas, que eu não me lembrava mais. Hoje, Sabrina, uma simpática garota de Pescara, que acabou de terminar a faculdade de Arquitetura, chegou com um sorriso maroto e disse: 'essa a frase é para quem foi a Faenza'. Pegou uma caneta e escreveu em alto e bom tom no quadro branco, usado pelos professores, com caneta vermelha: 'sono stata mollata'. Até o 'sono stata' eu entendi, o resto, tive de perguntar. Sabrina foi deixada pelo namorado de três anos e resolveu dividir a história com todos nós. O relacionamento não resistiu à Faenza e toda a arte contemporânea. Ela disse que a coisa já não vinha tão bem, mas, depois da viagem, o namorado achou que teria de esperar demais até que ela 'encontrasse a sua estrada'. Disse que já tinha esperado que ela terminasse a faculdade e, depois, bem, Sabrina decidiu fazer o máster, o casamento demoraria ainda mais. Os caminhos começaram a se distanciar. Eu entendo, vivi uma história assim com o meu primeiro namorado oficial, Marcelo, de São Paulo. O namoro, no entanto, durou seis anos, começou antes da faculdade, durou os cinco anos do curso de Jornalismo, mas não resistiu à Folha de S.Paulo, quando encontrei Vincenzo, novos amigos e uma vida nova. A vida é assim, cheia de surpresas.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Un'ora sola ti vòrrei

O filme é lindo, maravilhoso, comovente e pode ser visto no Youtube. Sempre daquele jeito, dividido em seis epsódios. É de Alina Marazzi, uma cineasta italiana 'bravissima'. Alina perdeu a mãe quando tinha seis anos. Sua mãe era belíssima e muito rica, bem casada, mas sofria de depressão. Suicidou-se aos 33 anos, em Milão. Alina, a filha, fez dos caderninhos, diários, fotografias e filmes caseiros, filmados pelo avô, um filme sem igual. Un'ora sola ti vòrrei é duro e doce ao mesmo tempo. O link para o primeiro capítulo é http://www.youtube.com/watch?v=tlga5fnctj8 .

Lua cheia no Macro


Caros, vão cansar de ler sobre arte contemporânea e fantásticos espaços expositivos aqui de Roma, da Itália. Pois bem, já falei do Macro, que tem duas unidades, uma no bairro de Testaccio e a mais antiga, reformada recentemente, perto da casa da Alessandra, que me hospedou no início da temporada romana. O Macro em Testaccio é fantástico, é um antigo matadouro, eu já contei, e no final de semana foi palco para o Roma, the Road to Contemporary Art. O nome é inglês, os italianos reclamam disso: 'pq a arte contemporânea tem de vir embalada em inglês', ouço logo na entrada. É os romanos são extremamente bairristas, mas adoram o Brasil _ meno male. Mas de volta ao Macro, eram 67 galerias de várias parte da Itália e do mundo, que mostravam seus artistas ao público. Bem interessante. Lá sim, muitas performances e, toda noite, uma festinha para encerrar a jornada de trabalho. Foram cinco dias de muito agito (nossa, quanto tempo que eu não usava essa palavra). E no Macro, eu fiz as pazes com a arte contemporânea, em meio à lua cheia e as performances de Michelangelo Pistoletto, um artista italiano, conhecido mundialmente, e que começo a gostar muito.

A primeira coletiva... a gente nunca esquece



Semana passada foi inesquecível: o dia da minha primeira coletiva em terras estrangeiras. Confesso que me perguntei, como fazem os correspondentes que, mal chegaram, e tem de produzir matérias. A tarefa é difícil, complicada. Primeiro, você tem de entender como chegar até os meios _ fisicamente, inclusive. Depois, tem se fazer conhecer pelas assessorias de imprensa (isso eu ainda não consegui) e aí, então, ser chamado para um lançamento, uma coletiva do governo, do Vaticano (no caso de Roma). No começo, nos primeiros dois meses, isso parecia impossível (imagina antes da internet), agora, no terceiro mês parece mais fácil. Vamos ver. A história toda é que, via a diretora do curso, chegue até a assessoria de imprensa do MAXXI, o mais novo e fantástico museu de Roma, e fui convidada para a coletiva de inauguração. Cheguei e, claro, meu nome não estava na lista. Enquanto esvasiava freneticamente a minha bolsa, na frente do segurança, procurando a minha carteira de jornalista (vencida, por sinal, mas essa info. estava em português e o pobre não percebeu), via entrar decenas e decenas de pssoas. Entrei. Ufa!! Lindo, o MAXXI é maravilhoso (depois passo o link da matéria). Embasbacada pela estrutura externa da 'grande jiboia", segui até a sala de imprensa. Seiscentos jornalistas do mundo inteiro se acotevalavam para sentar em 300 cadeiras, dispostas em frente ao, digamos palco. Que alegria, pensei, estou numa coletiva importante na Itália. A felicidade, no entanto, foi interrompida por um fotógrafo mal educado, que bateu a câmera na minha cabeça. Ufa, que grosseria, tinha esquecido dessa fase da 'vida coletiva'.

Mal me recomponho e sinto uma mãozinha delicada nas minhas costas, me virei, era, com certeza 'uma modela'. Como eu sei? Perna fina, magérrima, salto 30, vestido rosa, botox na cara. Pedia que virasse um pouco o meu pescoço na direção da direita, assim ela 'poderia ver melhor'. Tive vontade de responder: 'escuta, eu estou aqui trabalhando, sua vaca magra'. Mas me contive, poderia bem ser amante de um dos políticos ali da primeira fila e, bem na Itália nunca se sabe, melhor tomar cuidado. Entorto o pescoço, ligo o meu novo gravador (Sony digital e compatível com o MAC, assim espero) e, nessa posição, fico por quase uma hora ouvindo as pessoas falarem sobre o MAXXI. Tudo muito interessante. E eu na expectativa das perguntas, quando ouço o mestre de cerimônia encerrar ali a coletiva. Não entendi nada. No Brasil, coletiva é para jornalista perguntar e aqui?

Depois do encerramento da coletiva, fomos conhecer o museu, as exposicões e, claro, tomar prosseco. E valeu a pena. Fui salva pela arquiteta Zaha Hadid, que projetou o MAXXI, e deu belas frases sobre o seu museu-escultura, que coloca Roma, finalmente, no roteiro da arte contemporânea. Evviva o MAXXI!

Os nós da arte contemporânea



Eu gosto de arte contemporânea. Estou fazendo um curso que trata justamente do assunto, mas, confesso, algumas vezes é bem complicado, principalmente a parte teórica da arte contemporânea. Bom, vamos lá, ao motivo do meu imbróglio da semana passada. Fui para Faenza, uma cidadezinha italiana simpática, cheia de aposentados andando na praça e parques pequenos, agradáveis, cheios de crianças correndo. É esse o cenário atual da Itália: muitos, mas muitos idosos, nos ônibus-circulares inclusive, tentando se equilibrar entre a gentileza de gente mais nova, que não cede lugar por nada nesse mundo, e os movimentos bruscos do jovem motorista romeno (22 anos, pode ser?) ou de qualquer país do Leste Europeu. Do outro lado, muitas crianças e bebês, tentando sobreviver ao mau humor dos seus pais, com cara de cansadérrimos. Bem, mas de volta à Faenza. Ouvi muitas histórias de como esse festival de arte contemporânea estava mudando a cidade, que era maravilhoso e coisa e tal. Acreditei. Fui feliz da vida esperando encontrar gente fazendo performances nas praças, papos animados sobre arte na rua, grandes festas noturnas, mais performances, mais 'sound art' e obras com luz. Era isso que eu espera encontrar. E foi uma grande decepção. Não por conta da cidade e de seus parques doces, solares, mas por conta da arte contemporânea. No festival, nada de obras, performances e artistas. Somente debates, conferências e um estranho formato: fulana de tal que entrevista o artista X. E o artista X não mostrava sua obra.

Outra coisa que me chamou a atenção, os moradores da cidade não sabiam muito bem o que estava acontecendo, não estavam envolvidos, não participaram. Para se ter uma ideia, no sábado, tudo funcionou normalmente, ou seja, das 13h às 16h, por exemplo, tudo 'chiuso' (se diz quiuzo, que significa fechado). Não se podia comprar cigarros (eu não fumo, ok), mas meu colegas sim. Café, só numa única cafeteria, enfim, não havia sintonia da cidade com o festival. Que triste! Isso sem falar nos guias-voluntários, que nada entendiam, tinham chego um dia antes à Faenza, muitos não conheciam a cidade, e não sabiam nem onde eram os lugares das conferências. Uma pena, mas uma lição sobre o que funciona e o que não funciona num festival de arte contemporânea.

Difícil postar todo dia



Eu tenho sempre muitas coisas para contar sobre Roma, me maravilho com tudo, mas como é difícil postar todos os dias, ou colocar sempre uma boa história. É uma questão de hábito. Há duas semanas, por exemplo, eu e Sofi fomos comer num restaurantezinho simpático em Trastere, perto de casa. E encontramos um restaurante do qual já tínhamos ouvido falar, o Piazzeta. Foi uma emoção achar, do nada, o lugar que o Didi, o padrinho querido da Sofi, falava com tanto carinho. E ficamos lá, conversando, tirando foto e, claro, comendo. Se come muito bem no Piazzeta. Sofi pediu macarrão com vôngole, seu preferido, e eu 'pasta nera'.