segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Solar
Quando até o cara da Telecom, por telefone, diz que sou 'solar', começo a acreditar que sim. E que, ou os italianos são muito enroladores (são, isso é verdade) ou falta ou pouco de alegria nesse país conhecido, justamente, por ser tão solar. O que percebo, desde que comecei a vir para Itália, em 2000, é que o país entristeceu sim um pouco. Talvez por conta da crise econômica, muito mais do que política. Tenho a impressão que os italianos eram mais felices, agora vejo as pessoas brigando mais na rua (brigavam antes, mas talvez com menos voracidade, agora as brigas são mais duras). Os italianos perderam poder de compra, falta emprego nas grandes cidades, a indústria italiana produz tudo na China e na Índia, e a estabilidade foi ameaçada. E a lembrança dos tempos de guerra tomou conta dos mais velhos. Os mais novos não sabem muito bem o que fazer, para onde ir, tem uma certa inércia e pouca vontade de fazer. Estão tristes, grudados na internet, com milhões de amigos no Facebook e poucos para conversas reais, confidências. Mas vejo manchas de leopardo nessa sociedade, com muitos bons direitos adquiridos. São pessoas como a jovem Francesca, minha nova amiga e vizinha, jornalista, apresentadora de TV e cheia de ideias fantásticas. Mãe de uma gatinha, casada com um produtor musical. Ou na voraz Giorgia, que faz o curso comigo. É teimosa, ditadora, extremista, mas do bem, quer fazer a revolução, é o novo Garibaldi. E Roberto, meu grande amigo da Federculture, que batalha pela sobrevivência de mostras, espetáculos e tudo que diz respeito à produção cultural em Roma e na Itália em geral. E 'pian piano' vão trazendo a esperança de volta a esse país lindo, e a essa cidade eternamente solar que é Roma.
Friozinho, friozão e o farmacêutico 'carino'
A temperatura baixou por aqui, e ainda nada do aquecimento. Comecei a ficar preocupada, perguntei para o simpático moço da 'minha' cafeteria, para a vendedora da banca de jornal (não tão simpática, mas que se esforça) e para o farmacêutico, tratado como doutor por aqui. E ele fez uma expressão do tipo: frio, hoje? Mas acho que é só para me assustar. Depois abriu um sorriso e disse: 'che carina que sei'. Significa tipo, 'como você é engraçadinha'. Sai sem entender bem, mas me deu um ótimo desconto no remédio. Faz isso sempre, olho a nota fiscal e vejo que ele cobrou bem menos. Na primeira vez, disse, 'acho que está errado o troco', ele fez que não e me empurrou o dinheiro. Em tempos de crise, pegue e coloquei no bolso, sem discutir. Italianidades.
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